Infelizmente, no Brasil, os povos indígenas são marginalizados. Nas escolas muito pouco é ensinado sobre os povos indígenas e quase não temos contato com os costumes e história das diversas etnias que povoaram (e povoam) nosso país. Muitas das tradições indígenas foram massacradas e atacadas ao longos dos séculos. Porém, é possível encontrar locais onde a cultura foi preservada. Um destes lugares é a Reserva da Jaqueira, uma aldeia pataxó localizada em Porto Seguro no sul da Bahia.
#Pracegover: Foto entrada da Reserva da Jaqueira. Portão aberto, nas laterais pequeno muro feito de madeira. Na parte superior do portão escrito "Reserva da Jaqueira. Atrás o caminho da trilha e várias árvores de ambos os lados.
Um dos lugares mais fascinantes que tive a oportunidade de conhecer. Obviamente, que os índios que moram na reserva tem algumas influências do "mundo moderno do homem branco". É possível ver chinelos, ou peças de roupa por baixo de suas vestimentas tradicionais. Além disto, alguns adereços, confeccionados pelos próprios índios tem símbolos como escudos de times de futebol. Mas, o local conserva muito da essência e das tradições indígenas, bem como a língua patxohã. Você percebe que não é algo encenado, que eles realmente vivem naquele lugar e preservam a cultura e as tradições pataxós.
O TOUR
Já na entrada da Reserva da Jaqueira, somos recepcionados por um índio. Ele nos cumprimenta em em patxohã, dizendo Hayôkuã (bom dia) e explica que devemos responder com Hayôxó. Além disto, ele passa as coordenadas de como será o passeio pela reserva. Em seguida, iniciamos uma pequena trilha no meio da Mata Atlântica que nos levará até a aldeia. É uma trilha curta, um pouco íngreme, e que não oferece grandes dificuldades. DICA: Leve repelentes.
No meio da trilha, nosso guia indígena faz algumas paradas estratégicas para falar um pouco sobre a cultura e explicar sobre as árvores locais, explicando a função de suas e folhas e frutos (como por exemplo, uso na medicina, fazer vestimentas e pinturas corporais).
Ao final da trilha, chegamos na Aldeia, onde o nosso guia faz as últimas explicações sobre as construções e organização social. Depois disso, temos um tempo livre para poder fazer pinturas corporais, feitas pelos próprios indígenas. Basicamente, as pinturas são divididas entre casados e solteiros e para homens e mulheres. Temos a opção de também praticar arco e flecha.
#Pracegover: Foto colorida. Homem segurando arco e flecha. Do lado indígena ensinando como fazer o movimento para lançar a flecha. No canto esquerdo alguns troncos de árvores. Ao fundo árvores.
Depois de cerca de meia hora para explorar a aldeia, somos convidados para ouvir uma espécie de palestra com uma das líderes da aldeia, Nitynawã. Ela conta sobre a história de como surgiu a Reserva da Jaqueira, sobre o massacre dos Pataxós que ocorreu em 1951, bem como sobre as tradições e regras que são seguidas até hoje pelos habitantes da Jaqueira. É uma verdadeira aula, um discurso emocionante e triste sobre a realidade de nossos povos indígenas. Mas, ao mesmo tempo, animador, pois aquela aldeia consegue preservar muito da riqueza cultural dos pataxós.
No local da palestra também recebemos uma benção do pajé e somos convidados a participar de uma dança tradicional. A principio eles fazem uma demonstração e cantam em patxohã depois cantam em português também. DICA: Não deixe de participar e se possível descalço para sentir as energias do local. É um experiência muito diferente e marcante.
#Pracegover: Foto colorida. Pajé andando com um recipiente na mão exalando fumaça. Atrás índio caminhando com chocalho
Os pataxós sempre competem nos Jogos Indígenas, e eles levam a competição bastante a sério. Entre as modalidades temos: o arremesso de tacape e o cabo de guerra. Assim, depois de algumas demonstrações, somos convidados a participar. Primeiro são feitos arremessos. Depois, é feita a competição entre "turistas" e os pataxós. Eles normalmente vencem. DICA: Sente-se no chão e fixe bem os pés, é o que eles sempre fazem, e normalmente vencem.
#Pracegover: Foto cabo de guerra na esquerda ao fundo time dos índigos sentados puxando o cabo de guerra. Do outro lado os turistas puxando o cabo. Ao fundo mata.
Por fim, somos convidados a degustar um peixe na folha de bananeira. Ao final do tour, temos mais um tempo livre, normalmente neste momento é destinado as compras. Eles vendem seus artesanatos, inclusive tem até máquina de cartão de crédito, uma das poucas modernidades permitidas na aldeia. (Eles não podem usar celulares, e possuem apenas uma televisão - a qual não chegamos a ver). Os preços ali não são os mais baratos. Em Coroa Vermelha, ou propriamente em Porto Seguro é possível encontrar alguns itens mais em conta.
A Reserva da Jaqueira vive apenas dos recursos naturais, mas ela possui projetos escolares, por exemplo que necessitam de investimentos, por isso se você quiser ajudar pode comprar algum dos itens vendidos ali. Existem salas de aula ali mesmo para as crianças aprenderam o patxohã, bem como as matérias do ensino público brasileiro.
#Pracegover: Foto colorida. Numa estante, alguns objetos de madeira. 2 copos dos lados e um pequeno recipiente no meio. com uma colher de pau na frente.
VALE A PENA?
É um passeio diferente e de uma grande riqueza cultural. Além de muito educativo, é ótimo para família. No nosso grupo tinham várias crianças que se divertiram muito e aprenderam um pouco da cultura pataxó. Acho que é possível ter uma pequena imersão na realidade dos indígenas. Foi um dos lugares que mais gostei de conhecer em Porto Seguro. Ressalva é óbvio, não espere algo 100% puramente indígena, isso é praticamente impossível hoje em dia. Alguma influência do mundo moderno é natural que tenha. Porém, não é nada encenado e falso. É apenas uma pequena comunidade de pouco mais de 100 pessoas lutando para preservar suas raízes. Essa história é muito bonita e vale muito a pena ser conhecida! Não deixe de visitar a Jaqueira se for para Porto Seguro.
CURIOSIDADE:
Como é o nome de uma casa Pataxó? Se você pensou: "OCA" está errado! Oca é uma palavra oriunda do tupi-guarani. O Pataxós falam o patxohã e na língua deles o nome da habitação é "quigeme". A habitação é feita com paredes de barro e teto de piaçava. Ele possui duas portas: uma virada para onde nasce o sol e outra para floresta. Em um quigeme pode viver uma família com quatro ou cinco filhos.
#Pracegover: foto de um quigeme. paredes de barro e teto de piaçava. Com a porta aberta
PREÇOS: Existem vários tipos de passeio. Tem a possibilidade de fazer de algumas horas (minha opção), de passar um dia, de até dormir na aldeia. São pacotes variados. Os passeios são feitos pelas agências de turismo local e variam de acordo com sua opção. É possível encontrar opções de R$ 80,00 até R$ 150,00. Sendo que em alguns casos incluem paradas em outros pontos. Por isso, pesquise pela internet e nas agências locais de Porto Seguro, próximo a Passarela do Álcool (Passarela do Descobrimento)
ACESSIBILIDADE: É um passeio que apresenta suas limitações por ser no meio da mata aberta, a aldeia tem irregularidades no chão. Porém, por exemplo, a trilha pessoas com dificuldade de locomoção podem fazer de van, tendo em vista que a maioria dos passeios são feitas com agências de turismo. O passeio é possível, porém, apresenta essas limitações por conta das irregularidades do terreno.