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Foto do escritorLeonardo S. Paduan

Hora de "Destampar" os ouvidos e falar com as mãos!


A vida nos dá lições diárias. Basta estarmos atentos e abertos para o processo de aprendizagem. Basta refletirmos e tentar olhar o mundo com outros olhos, sairmos da caixa e expandir nossa mente. Logo, no primeiro dia de mochilão, ainda no ônibus, longe ainda do primeiro destino tive minha primeira lição. Como comentei, anteriormente, uma moça sentou ao meu lado e gerou a primeira reflexão da viagem. Mas, não contei o motivo. Por que essa moça acabou me fazendo refletir sobre alguns aspectos da vida!? Pelo simples fato dela ser uma pessoa com deficiência auditiva. Tá ok! Mas, no Brasil são milhões de pessoas deficientes auditivas. Qual é o grande X da questão?

Explico! Além dessa moça, havia outros dois passageiros que estavam no ônibus no banco na diagonal. Eles conversaram entre si por libras, numa velocidade frenética. E eu, ali, bem no meio sem entender nada. Por algumas vezes, tentavam se comunicar comigo por gestos também ou escrevendo em seus celulares. Me perguntavam sobre a viagem e se eu saiba informa-los sobre que cidade estávamos, tempo de viagem e cia.

Tanto os passageiros do outro banco, quanto a moça que sentou-se ao meu lado, eram bem simpáticos e se esforçavam para dialogar comigo. Eu do mesmo jeito! Porém, me senti um pouco mal com a situação! Parei para refletir sobre a questão da comunicação. Durante minha vida inteira procurei aprender inglês, espanhol e francês, e até vi algumas coisas de alemão e italiano. Todavia, nunca fiz um curso, uma aula sequer de libras.

Nessa gana maluca de aprender outras línguas para me qualificar profissionalmente, nunca parei para pensar em aprender libras, que seria tão útil naquele momento e quem sabe em muitos outros mais. Naquele momento percebi que o verdadeiro "surdo" era eu, por ter de certa forma "tampado meus ouvidos" para essa questão até então. Me senti culpado, pelo meu desinteresse, era como se ao longo dos meus 26 anos optei por excluir essas pessoas do meu convívio. Obviamente, não por maldade ou consciente disto, mas por pura negligência. As vezes, nos preocupamos demais em aprender outras línguas para usar no trabalho, ou em viagens, mas nem pensamos na língua de sinais que ajudaria para falar com a pessoa do lado, inclusive no meu caso, literalmente.

Aliás, nos preocupamos apenas com nossos umbigos, acabamos nos tornando mais egoístas e não reparamos nas dificuldades do próximo. Comecei a reparar na dificuldade deles em realizar uma viagem, por exemplo. Aparentemente, mais ninguém no ônibus sabia libras. Alguns passageiros, quando tentavam falar com eles, procuravam aumentar o volume da voz. O que não faz nenhum sentido! Outros falavam de forma mais pausada, na esperança que eles pudessem ler lábios. Nem mesmo os motoristas sabiam alguma coisa em libras, tentavam na mímica ou falar pausado para explicar algo quando eles perguntavam em alguma parada.

Porém, isso é um grande problema. Não sei se alguma empresa, mas creio que não, se preocupa em treinar seus funcionários para atende-los corretamente. Passar as informações. Ali nas paradas, por exemplo, explicar sobre tempo. No caso, tivemos que trocar de ônibus, por conta de alguns problemas técnicos e foi uma situação complicada. Ou pior, como a viagem era longa e haviam varias paradas, isso tornou-se outra dificuldade, já que eles iriam descer no meio do trajeto. Acabou gerando um momento de grande nervosismo e apreensão. Eles precisaram descer em alguma cidade entre SC e RS, a qual não me recordo. De lá iriam, pegar outro ônibus para o destino final. Acontece que o mesmo já estava na plataforma, quase para partir. Eles tiveram de correr para avisar ao motorista da segunda condução. Ao mesmo tempo, precisavam pegar suas malas no primeiro veículo. Foi uma situação um pouco complicada. Pude notar no rosto deles a preocupação. Desci do ônibus e tentei ajudar no que pude. Mas, me vi atado por não entender muito da língua de sinais. Só pude tentar acalma-los um pouco e ajudar a achar a mala.

Pior, imagino que se fosse um inglês, ou um espanhol eu poderia ajudar mais do que aqueles brasileiros. Não, não é uma questão de priorizar ou excluir um ou outro. Mas, é um alerta. As vezes, nós que nos tornamos "surdos" para as dificuldades do próximo. A questão da inclusão social, em todos os aspectos deve ser colocada em pauta na Câmara, Senado e nas rodas de conversa de bar e entre amigos. Afinal o que estamos fazendo pela Inclusão Social? E você está pensando em aprender uma nova língua? Que tal LIBRAS?


#PracegoVer : Imagem - Parte superior - Desenho de mãos em sequência "escrevendo" a palavra LIBRAS na língua de sinais. Em baixo palavra "LIBRAS" em laranja. seguida da frase "Faço das minhas mãos BOCA, para que seus olhos possam me Ouvir" do autor Filipe Macedo. No canto inferior direito o logo do Abrindo a Cabeça (uma silhueta de uma cabeça, com ziper se abrindo com a Escrita "Abrindo a Cabeça".

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